segunda-feira, 18 de junho de 2012

Improvisação

Post sobre improvisação


No começo quando comecei estudar improvisação, adorava usar a famosa escala pentatônica. Nela encontrava a maioria das frases de rock e blues que adorava, como ouvia muito esses dois estilos na época, era uma mão na roda. Essa escala parecia pronta, sua sonoridade era completa, eu não precisava pensar muito nas notas que estava tocando.



Mas logo comecei a gostar e trabalhar com outros estilos musicais, e aí é que vieram as dificuldades. Pra fazer a velha pentatônica soar bem em varias situações, eu tinha que me esforçar muito. Com alguns malabarismos até que funcionava, mas sempre faltava algo.

Foi aí que comecei  estudar outras escalas, conheci os modos, menor melódica e menor harmônica, escalas simétricas, etc... Passei um bom tempo estudando tudo isso, conhecia seus campos harmônicos, aplicações e tudo mais. Resolvi meu problema??? Ainda não!!!!  Na hora de aplicar tudo isso eu travava, parecia que dava um branco e não conseguia pensar.


Pensei em uma outra abordagem, passei a estudar os arpejos dos acordes. Isso ajudou bastante, pois eu me preocupava mais com a sonoridade de cada acorde em si ao invés de esquentar a cabeça com sua escala. Toquei assim por um bom tempo, e gostava do resultado. Tendo as notas dos acordes como notas alvo a coisa ficou mais fácil, pensava nelas e usava outras notas como notas de passagem. Essa abordagem resolveu grande parte do meu problema, mais ainda faltava alguma coisa. Uma fluência melhor nos meus improvisos.

Aí que vem a dica do post!!!

A coisa toda só começou a funcionar mesmo pra mim quando passei a entender os acordes como parte de um todo. Pensando dessa forma passei a usar as escalas de forma mais consciente. Até mesmo a pentatônica do inicio do post passou a soar melhor.

É lógico que só isso não vai fazer de você um grande improvisador, existem vários aspectos pra se estudar, e um bom improvisador tem muitas qualidades como: Ritmo, swing, criatividade na hora de manipular escalas e arpejos, tem senso harmônico e melódico apurado, sabe harmonizar bem, e etc...

O que trava o musico na hora de aplicar as escalas, é pensar tudo separado, pra muita gente acordes são uma coisa, escalas são outra. Não deveria ser assim!!! Algumas pessoas vêem um determinado acorde e pensa em um monte de escalas pra se usar, mais na verdade é o contrario, são as escalas que geram os acordes.

Vamos pensar na cadência  IIm  - V7 -  I7+,  que é a base da musica brasileira e do jazz.

Observando o campo harmônico de dó maior temos:

  I          II        III       IV       V      VI       VII
C7+    Dm7    Em7    F7+    G7    Am7    Bm7/b5

O que esses acordes tem em comum???? Todos vieram da mesma escala, dó maior!!!

Nossa cadência dentro desse campo harmônico então seria:

IIm7    V7    I7+
Dm7 - G7 - C7+

Pra quem gosta de modos:


   I          II        III      IV          V         VI      VII
Jônio  Dórico  Frígio  Lídio  Mixolídio  Eólio  Lócrio

Se todos acordes vem do mesmo campo harmônico, então uma única escala já resolve na hora de improvisar. (Muitos improvisadores gostam de usar notas fora da escala, pra dar um sentido out-side, mas pra manter as coisas simples, vamos nos focar na forma diatônica por enquanto.)

Essa cadencia se resolve no acorde de primeiro grau, que nesse caso é o C7+,  mas também pode resolver em um primeiro grau menor ( Im ), aí, teremos uma mudança. Ficaria assim:

IIm7/b5   V7   Im7

No tom de Dó menor:

IIm7/b5    V7        Im
Dm7/b5    G7      Cm7

Se você prestar atenção, temos três categorias de acordes nessas cadências:

Maior (XM)  Menor (Xm)  e Dominante (X7)

Pra cada um deles você consegue dar a cor que você quiser. Quer um exemplo???

Você pode alterar o V7 grau, usando uma ou duas notas de tensão, poderia ser um G7/b9, ou um G7/b6. Com isso você muda a escala desse acorde, e cria uma tensão extra, reforçando o sentido de repouso no acorde de I grau. Você vai ver muito esse tipo de recurso em musica brasileira.

Quanto mais tensão você criar no acorde anterior, mais expectativa de resolução no próximo acorde você gera. Isso pode ser bom se você quer prender atenção do ouvinte.

Essa cadência básica é ótima pra estudar re-harmonizações e improvisos. Se você se abtuar a tocar sobre ela, poderá se dar bem em varias situações musicais. E como ela é a base pra musica brasileira e jazz, estudando ela, adquirimos um bom vocabulário não hora de tocar esses dois estilos.

Os mais rockeiros que não se engane!!! Essa cadência é muito comum em vários outros estilos musicais, desde o blues até a musica erudita o que muda é linguagem e a forma como ela é tocada.

Mais e aí, como achar a escala correspondente a cada acorde???

Faça o seguinte:

Vamos pegar o acorde de V7 da cadência menor, no caso o G7.

As notas  básicas são:

 T      3     5      7b
Sol   Si     Ré    Fá

Sabemos que esse acorde resolve em Cm nessa cadência, logo usaremos essa escala pra acharmos as notas restantes. Observe:

   T        2b         3        11         5        6b       7b
(Sol)     Láb      (Si)      Dó      (Ré)     Mib     (Fá)

As notas entre parentese são as notas básicas que formam o acorde, as outras notas são as tensões, que encontramos na escala, que não fazem parte da forma básica do acorde mais servem para colorirmos o acorde, uma opção pra temperarmos o seu som.


Usando as notas de tensão nosso acorde ficaria assim: G7/b9 ou G7/b6. Observe na escala que acabamos de montar, que temos essas tensões a disposição. Lembrando que, as outras notas vem da escala de dó menor que é o tom do momento.




Uma observação:

A terça do acorde de G7 é um Si, nós não a alteramos, pois faz parte da formação básica do acorde. Essa nota não se encontra na escala de Cm natural, que no caso seria um Sib.

Encontramos esse acorde no quinto grau da menor harmônica, e o Dm7/b5 encontramos no segundo grau da mesma, logo essa escala é a escolha certa pra essa situação harmônica. 

Compare as duas escalas:

                         T      2      3b      4       5      6b    7b
Menor natural:  Dó    Ré    Mib   Fá    Sol    Láb   Sib

                                T      2      3b      4       5      6b     7
Menor Harmônica:  Dó    Ré    Mib    Fá    Sol    Láb   Si


 A diferença entre as duas é justamente a nota Si (VII), que na formação do acorde de G7 é a terça maior. Se você usar a escala menor natural nessa situação você vai estar tocando uma terça menor sobre um acorde maior, ou seja, nota evitada! (Podemos passar por ela, mais não repousar sobre ela.)

Experimente montar a escala do acorde de Dm7/b5 usando esse mesmo procedimento. Pra achar as tensões disponiveis.

 
Pra ilustrar o uso de II V I, um standard de jazz.

Observe que temos um  IIm  V  I  resolvendo em Cm, do compasso 6 ao 9. (Dm7/b5 - G7 - Cm11)

Um do compasso 10 ao 13  resolvendo em Db. (Ebm9 - Ab7 - Db6)

Tente achar os outros...

Post sobre improvisação




Muita gente se atrapalha na hora de escolher as escalas certas, já vi músicos até com formação acadêmica não sabendo onde aplicar as escalas.

Esse assunto é muito extenso, não da pra falar sobre tudo que envolve harmonia e improvisação num simples post. Mais acredito que isso ira despertar sua curiosidade sobre o assunto e fazer você querer pesquisar mais sobre, e  pra quem não tem idéia nem uma sobre esse assunto, procurar um professor pra lhe orientar, e derrepente até fazer umas aulas de harmonia, seria uma opção a se pensar.

Esse assunto não é só pra quem quer improvisar bem, serve também pra quem harmoniza, e quer dar uma sofisticado no seu vocabulário harmônico. Na verdade, estudar harmonia é o caminho das pedras.


Espero ter ajudado um abraço a todos.


                               





4 comentários:

Anônimo disse...

Douglas... nessa postagem vc falou sobre um tema bem delicado dentro da música: a improvisação. Muitas pessoas que tem facilidade em improvisar, se confundem ou até mesmo rejeitam uma explicação teórica sobre o tema. Em outros casos, como no meu, a teoria se apresenta mais fácil que a prática. Enfim, toda a ajuda e todas as dicas são bem vindas...

Anônimo disse...

Escala pra mim é igual vocabulário, a pentatônica seria as primeiras palavras que aprendemos e ao passo que vamos conhecendo novas palavras, ou seja, novas escalas, a improvisação que é o instrumento falando por nós se torna mais culto.

Unknown disse...

Bem colocado ouvido relativo. A medida que aprendemos mais e dominamos determinada lingua nos expressamos melhor nesse idioma.

Unknown disse...

Carol, a improvisação esta presente na musica desde o começo. Antes em estúdio se gravava tudo de uma vez, em um canal só, então era necessário uma boa dose de intuição dos músicos. Na musica erudita, embora muitos pensem o contrario também existe muita improvisação. Eu vejo a coisa como uma forma de composição. Só que feita na hora.

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